Continuo aqui repassando um pouco daquilo que tenho lido na literatura médico-científica com enfoque direcionado aos interesses de portadores de doenças reumatológicas autoimunes como artrite reumatóide e lúpus eritematoso sistêmico.

Existe a preocupação com o risco de infecção ou mesmo, a gravidade de uma eventual infecção nos pacientes em uso de drogas imunossupressoras.

Pois bem, na última edição da prestigiosa revista Annals of the Rheumatic Diseases Monti e colaboradores descrevem a evolução clínica de pacientes com artrite reumatóide em uso de diferentes drogas imunossupressoras. Muito embora seja uma série ainda pequena de pacientes (portanto não podemos tirar conclusões definitivas), os autores descreveram um quadro tranquilizador para os nossos pacientes. Eles ainda lembram de experiência anterior nas epidemias de Sindrome Respiratória do Oriente médio e na SARS (outros coronavirus) nas quais pacientes portadores de cancer, pacientes transplantados ou pacientes imunossuprimidos não evoluiram de forma mais grave do que os demais.

A conclusão deste artigo e também do editorial escrito pelo renomado reumatologista escoces Ian McInnes, nesta mesma revista, é que dados preliminares não têm mostrado um aumento significativo do risco. Por isso mesmo, a maioria das recomendações oficiais sugerem a manutenção destas drotas, exceto nos casos com infecção confirmada. No entanto, eles ressaltam que todos os pacientes infectados suspenderam as drogas imunossupressoras , uma vez confirmada a infecção. (*)

Quero acrescentar aqui alguns comentários meus. Em primeiro lugar, não há dúvida que corticóides (principalmente em doses altas) conferem um importante aumento de risco de infecções. Durante a epidemia, tem se demonstrado que seu uso aumenta o tempo necessário para o clareamento do virus no organismo. Talvez o mesmo seja válido para outras drogas imunossupressoras porém ainda faltam dados.

Em segundo lugar, além do risco direto que uma droga imunossupressora poderia ou não conferir, existe o risco indireto relacionado com a necessidade da pessoa se deslocar para clínicas de infusão, nos casos de paciente em uso de drogas imunobiológicas injetáveis. Este risco deve ser comparado com o outro lado da moeda, ou seja, o risco de piora da doença de base com a suspensão da medicação, incluindo o risco de necessitar de apoio hospitalar nesta eventualidade.

Por enquanto permanece a indicação de avaliar cada caso individualmente. A cada dia que passa, mais informações são adquiridas com respeito a este novo virus e , da minha parte, vou tentar manter este blog atualizado.

 

* Ann Rheum Dis. 2020 May;79(5)