Quando alguém fala em “reumatismo” logo pensa em dor. No entanto, além do sintoma dor, uma queixa extremamente frequente dos pacientes com artrite reumatoide é a fadiga.

Fadiga não é apenas o cansaço que sentimos após um esforço físico intenso. Trata-se de uma sensação de falta de energia que impacta negativamente a qualidade de vida. Muito embora saibamos hoje que fadiga é uma causa proeminente de incapacidade funcional, este sintoma foi tradicionalmente subestimado. Acreditava-se que a fadiga do portador de artrite fosse uma consequência linear e direta da atividade da doença e que o tratamento da doença levaria invariavelmente à melhora da fadiga.

Este raciocínio não é corroborado por estudos mais recentes que mostraram certa falta de associação entre fadiga e atividade de doença. Na prática podemos observar que a fadiga pode preceder o surgimento da artrite e às vezes, persistir depois da melhora de outros sintomas. Esta situação reflete nosso conhecimento impreciso da sua etiologia e tratamento. Um estudo holandês citado na página eletrônica MedPage Today demonstrou, em um grupo de portadores de artrite reumatoide avaliados por vários anos, a manutenção de altos índices de fadiga, apesar da melhora significativa dos outros parâmetros da artrite.
Eu vejo a fadiga como um problema particularmente importante, pois, afeta a vontade e a capacidade do paciente realizar atividades físicas regulares. A falta de atividade física, por sua vez, traz consequências muito negativas para a saúde geral do paciente, inclusive piorando a dor.
Mas existem boas noticias neste sentido. Fadiga tem sido cada vez mais estudada e melhor abordada.

Por um lado, existem estudos demonstrando a relação entre saúde mental e inflamação. Este é um fato conhecido desde o final do século XIX que ganhou novos “insights” recentemente. Sabe-se atualmente que o sistema imunológico e o processo inflamatório tem grande influência no sistema nervoso central e no comportamento. Esta conexão pode ser particularmente importante em doenças inflamatórias crônicas como a artrite reumatoide e o lúpus eritematoso sistêmico
Inversamente, no caso especifico da artrite reumatoide, um estudo bem recente, da universidade de Aberdeen mostrou que a fadiga dos pacientes não é diretamente mediada pela inflamação. Na verdade, quando a doença é tratada e a inflamação controlada, o impacto do tratamento se traduz em melhora da dor, da incapacidade funcional e de aspectos piscológicos que, por sua vez reduzem a fadiga.

Sem dúvida nenhuma, a fadiga na artrite reumatoide não tem apenas uma causa. Ela é multidimensional e correlaciona-se entre outros com:
• presença de anemia e outras condições médicas
• intensidade da dor
• deformidades/incapacidade articular
• fatores psicológicos
• qualidade do sono
• uso de medicamentos
• perda de massa muscular.

Do ponto de vista prático os novos conhecimentos ajudam a melhorar a abordagem dos nossos pacientes. Isto vale não apenas para a artrite reumatoide. Fadiga é uma queixa importante de muitas doenças reumatológicas incluindo artrose, fibromialgia, ou doenças sistêmicas como o lúpus.

É conhecido que em portadores de artrose ou outras situações relacionadas com dor e deformidade articular, a fadiga correlaciona-se com um maior gasto de energia necessário para a execução de tarefas envolvendo as articulações afetadas. Nestes casos o paciente beneficia-se de uma orientação ergonômica, de conservação de energia e do uso de acessórios. Por outro lado, o quadro articular isoladamente não explica a fadiga de doenças inflamatórias sistêmicas, nem de outras síndromes como a fibromialgia.

Cabe aqui uma constatação simples, porém, de extrema importância.

Quem sofre com doenças reumatológicas deve se exercitar regularmente. Portadores de artrite reumatoide costumam alternar períodos bons com períodos nos quais sentem maior fadiga. Nos momentos ruins tendem a deixar de lado os exercícios físicos para os quais eles já têm certa dificuldade de adesão. No entanto a atividade física regular é essencial para vários aspectos como saúde mental, diminuição do risco de quedas, ganho de mobilidade, aumento de força, melhora na saúde óssea, prevenção cárdio-vascular e, até mesmo, no combate a fadiga.

É benéfico manter uma atividade física, mesmo nos períodos em que nos sentimos mais cansados. Isto melhora a recuperação e evita a perda de condicionamento, sem afetar negativamente a própria doença. A atividade física dos portadores de doenças reumatológicas deve portanto ser adaptada para cada paciente, levando em consideração a sua doença, tratamento e o momento atual mas sim, a fadiga pode ser vencida.