Espondiloartrite é o nome de uma família de doenças reumatológicas inflamatórias que tem muito em comum entre elas. Nesta família de doenças são incluídas a espondilite anquilosante e a artrite psoriática (sobre as quais temos outros textos já postados) além da artrite reativa e a artrite enteropática (associada às doenças inflamatórias intestinais como Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa)

Pode parecer um pouco confuso, então vou explicar melhor.

A espondilite anquilosante é uma doença que afeta primariamente a coluna e as articulações sacroilíacas. No entanto, ela também pode afetar as articulações dos membros e frequentemente causa inflamação nas ênteses (local de inserções dos tendões). Além disso, alguns pacientes com espondilite desenvolvem uma inflamação no olho conhecida como uveíte enquanto que outros podem evoluir com quadro cutâneo de psoríase ou doença intestinal inflamatória.

Já a artrite psoriática, é uma doença caracterizada pela artrite dos membros em pessoas com psoríase cutânea. Novamente aqui, os pacientes tendem a desenvolver muita entesite e alguns vão evoluir com doença inflamatória intestinal ou uveíte. Além disso, alguns pacientes diagnosticados com artrite psoriática acabam desenvolvendo uma inflamação na coluna em tudo semelhante à da espondilite anquilosante.

Esta mesma tendência a afetar as ênteses, o olho, o intestino, a pele, as articulações dos membros e a coluna se repetem em todas as doenças deste grupo. Mais do que isso, estas doenças compartilham uma relação bem conhecida com um fator genético chamado de HLA B27 e, de uma maneira geral, respondem às mesmas classes de medicamentos.

Historicamente, os pacientes eram rotulados apenas com os diagnósticos tradicionais referidos acima, no entanto, isto gerava confusão pois a maioria dos pacientes tinha sintomas misturados destas doenças.  Além disso, não raramente, pacientes tinham sintomas iniciais limitados (por exemplo uveíte ou artrite de poucas articulações) e apenas com o passar do tempo desenvolviam demais sintomas característicos. Aquela classificação mais rígida, acabava causando um atraso no diagnóstico e, consequentemente, no tratamento.

Por isso mesmo, estas doenças são melhor diagnosticadas hoje com o termo espondiloartropatias (ou espondiloartrite), de forma a incluir todas as variantes possíveis. Mais recentemente têm havido ainda uma tendência a subclassificar as espondiloartrites em forma axial (envolvendo a coluna) e forma periférica (afetando predominantemente as articulações dos membros).  Ainda assim, diagnósticos como “artrite psoriática” e “espondilite anquilosante” continuam sendo usados para aqueles casos que se apresentam de forma típica, mas o diagnóstico espondiloartropatia é mais abrangente, envolvendo não apenas estes casos típicos.

As espondiloartrites tem uma forte influência genética. Mais de 30 genes já foram identificados neste sentido, mas, o mais frequente e melhor conhecido é o HLA B 27 que está presente na maioria dos casos (mas não em todos).   Este gene ocorre em todas as populações do mundo com frequência variável, e apenas uma parte das pessoas com HLA B27, desenvolvem qualquer doença.  Em outras palavras, ter HLA B27 não significa ter espondiloartropatia, da mesma forma que não ter este gene não afasta a possibilidade deste diagnóstico. Nos pacientes com psoríase ou com doenças inflamatórias intestinais, ter estes fatores genéticos significa uma maior probabilidade de desenvolver o quadro reumatológico, particularmente o envolvimento das articulações sacro-ilíacas e da coluna.

Além desta tendência genética a doença surge apenas na decorrência de fatores ambientais, particularmente algumas infecções.  Isto significa que, para desenvolver a doença não basta ter a tendência genética. É preciso ainda que ocorra um gatilho ambiental que, em pessoas predispostas geneticamente, pode levar ao desenvolvimento da doença.

O diagnóstico das espondiloartrites não é tão simples. Depende, antes de mais nada, do conhecimento destas doenças para levantar a suspeita. A confirmação é feita com uma mistura de dados da própria história, do exame físico, de exames laboratoriais e de imagem.  A interpretação destes exames, por sua vez, também depende de um conhecimento técnico bastante especializado. Mesmo em países do primeiro mundo, com grande acesso à serviços de saúde de qualidade, o diagnóstico costuma demorar anos.

Como descrito acima, as espondiloartrites tem várias formas de apresentação clínica. São doenças que podem afetar a faixa etária pediátrica assim como adultos jovens e idosos. Além disso, estas manifestações podem acontecer com intensidade e gravidade muito variável.  Alguns pacientes tem crises discretas e limitadas intercaladas por longos períodos sem sintomas e eventuais recorrências. Outros tem uma doença crônica (persistente). Portanto o tratamento também pode variar muito, desde indivíduos que não necessitam de tratamento algum, passando por casos que são tratados por tempo limitado até situações crônicas de tratamento contínuo.  O tratamento envolve medidas medicamentosas e não medicamentosas, incluindo um papel importante na prática de exercícios físicos. O próprio tratamento medicamentoso vai depender muito das peculiaridades de cada paciente e de cada caso, portanto, novamente depende de conhecimento especializado. O importante é que haja um tratamento e acompanhamento adequado no sentido de tratar os sintomas e evitar as consequências de longo prazo da doença não tratada. Na imensa maioria dos casos, o tratamento permite que portadores de espondiloartrites tenham uma vida absolutamente normal e sem limitações.