Quando o assunto é dieta, todo mundo tem uma dica.

Assim que alguém recebe o diagnóstico de artrite ou outra doença autoimune logo aparece alguém garantindo que ele deve comer isso ou aquilo ou que ele tem que parar de comer isso ou aquilo.

Tudo bem,  a relação entre alimentos e saúde é obvia e dicas alimentares foram a base de todos os tratamentos das nossas avós por muitas e muitas gerações e, embora não fossem baseadas em evidências científicas, vinham com a suposta garantia da experiência prévia.

O próprio conceito de evidência científica e o seu papel primordial nas indicações médicas  é relativamente recente e ainda é um conceito complexo e pouco compreendido.  Estudos  de qualidade que permitam conclusões sobre o papel dos alimentos nas doenças humanas são muito difíceis e custosos para serem realizados.  Seres humanos não são avaliados como camundongos de laboratório recebendo uma ração fixa e  controlada.  Mas a alimentação é extremamente importante para o ser humano e portanto, uma grande quantidade de estudos foram realizados neste sentido.  Mesmo sem levar em conta estudos de baixa qualidade, os resultados tem sido muitas vezes contraditórios ou inconclusivos.   Isto não impediu que conclusões imprecisas fossem muitas vezes amplamente divulgadas na mídia como definitivas. Afinal, sempre está na moda falar de dietas.

Qualquer portador de artrite e doenças reumáticas autoimunes  já recebeu recomendações de evitar glúten ou derivados do leite, assim como também já deve ter ouvido falar sobre ômega 3, vitamina D, vitamina C e tantos outros suplementos alimentares.

Por isso mesmo, veio em boa hora a primeira tentativa mundial de colocar oficialmente uma lista de recomendações de dieta para portadores de doenças reumáticas  elaboradas pela Sociedade Francesa de Reumatologia (acredito que seja a primeira iniciativa oficial neste sentido, no mundo).  Além de outras fontes e comentários, meus repasso aqui um resumo das recomendações que foram divulgadas no portal Medscape Rheumatology.

  • Dietas podem ser benéficas para a saude geral, em particular para a saude cardiovascular, e também podem ter um papel benéfico para ossos e articulações. No entanto, uma recomendação inicial deixa claro que o aconselhamento dietético não deve ser usado como substituto ao tratamento medicamentoso de doenças inflamatórias crônicas. É uma recomendação essencial pois até o momento não existem evidências de que qualquer forma de dieta restritiva ou suplementar consiga bloquear o processo inflamatório e o dano estrutural progressivo de doenças como a artrite reumatóide, a artrite psoriática ou a espondilite anquilosante.  Sem tratamento estas doenças evoluem com complicações graves e, muito embora continuem sendo doenças crônicas, o tratamento medicamentoso atual é extremamente eficiente no bom controle destas doenças.
  • Um bom controle do peso é essencial para saúde. Existe uma correlação entre obesidade e risco de desenvolver artrite psoriática e artrite reumatóide. Além disso existe uma correlação bem conhecida entre obesidade e dor crônica, que vai além dos efeitos de sobrecarga mecânica sobre as articulações. Aliás, obesidade é uma condição pró inflamatória.
  • Dieta para controle de peso deve ser feita com supervisão de um nutricionista, na forma de um planejamento de longo prazo e não apenas para perda rápida de peso. Além disso, o papel do exercício físico tem sempre que ser bem salientado. Neste sentido existem vários estudos mostrando o papel benéfico da dieta mediterrânea e da suplementação de omega-3 (ou óleo de peixe).
  • Inúmeros estudos confirmaram a falta de qualquer eficácia de dietas restritivas como dieta vegana, livre de glúten ou de derivados do leite na evolução da artrite.