Existem mais de 100 causas diferentes de artrite. A espondilite anquilosante é uma dessas causas, pouco conhecida do grande público apesar de não ser tão rara assim.  Frequentemente o diagnóstico e tratamento correto só começam depois de vários anos do início dos sintomas, muitas vezes quando o paciente já desenvolveu alguma deformidade ou sequela importante.

 

Afinal o que significa este nome tão difícil?

Espondilite significa inflamação da coluna enquanto que anquilose significa rigidez.  Portanto o nome se refere à uma doença inflamatória que afeta a coluna e que tende a evoluir com perda dos movimentos, ou rigidez, das articulações afetadas.

Este quadro, meio que pessimista, predominou, desde a descrição desta doença até o final do século XX.  No entanto, tudo isso mudou.

Em primeiro lugar, com a melhor caracterização da doença e com maneiras mais eficientes de se fazer o diagnóstico, percebeu-se que, além da forma mais grave, a espondilite pode ter um curso bastante variado, não obrigatoriamente evoluir de forma “anquilosante”.  Na verdade, estas formas mais leves e menos agressivas são até mais freqüentes do que a forma mais evolutiva que era a única que chegava a ser diagnosticada antigamente.

Em segundo lugar, surgiram novos tratamentos muito eficientes no controle da doença. Por isso mesmo, mais do que nunca é importante diagnosticar a espondilite logo no começo.

Atenção! os primeiros sintomas (e muitas vezes os únicos sintomas) da espondilite podem facilmente ser confundidos com lesões esportivas, “entorses” ou problemas de postura, o que acaba ajudando a retardar a procura do médico especialista e o diagnóstico correto.  Então vamos esclarecer quais são estes sintomas e como podemos fazer a suspeita do diagnóstico da doença:

 

SINTOMAS

A espondilite costuma se manifestar começo da vida adulta, por volta dos 20 a 30 anos de idade, particularmente em homens. Apesar disto, a doença também afeta mulheres e eventualmente pode começar algumas décadas mais tarde.

O sintoma inicial mais comum é a dor lombar.  Como dor lombar é um sintoma muito comum, as pessoas tendem a acreditar que este sintoma é decorrente de um problema postural ou de um “mau jeito”. No entanto a dor lombar da espondilite é bem diferente da lombalgia comum.  Pacientes com espondilite sentem muito mais dor ao se levantar pela manhã, melhorando com os movimentos.  Esta talvez seja a dica mais importante para fazer alguém pensar neste diagnóstico.  Ao contrário da dor postural ou causada por lesões de esforço, a dor na espondilite piora com repouso e melhora com movimento. A dor se localiza nas nádegas ou na região lombar baixa, às vezes a esquerda às vezes a direita ou bilateralmente.  Esta dor é causada por uma inflamação na articulação sacro-ilíaca que fica exatamente na bacia, entre o osso sacro e o ilíaco.  Tipicamente, a espondilite começa pela articulação sacro-ilíaca e evolui de forma ascendente, ou seja, acometendo progressivamente a coluna mais acima. No entanto, existem muitos pacientes que começam a doença com dor na coluna cervical ou dorsal sem terem notado dor lombar anteriormente.  Sem tratamento pode ocorrer uma verdadeira fusão das articulações sacro-ilíacas e das vértebras da coluna. Estas alterações tornam a coluna menos flexível e o paciente acaba adotando uma postura típica, dobrado para frente, que os médicos costumam chamar de posição do esquiador.

Alguns pacientes apresentam uma doença que afeta apenas as articulações sacro-ilíacas e a coluna.  Outros pacientes podem evoluir com artrite de várias articulações como joelhos, punhos, cotovelos etc. O envolvimento das articulações das costelas pode diminuir a expansibilidade torácica e dificultar a respiração nos casos não tratados.

Outra manifestação bastante típica da espondilite é a inflamação da “êntese”.  Êntese é o ponto de ligação dos tendões ou músculos no osso. Então, pessoas com espondilite podem ter dor em várias enteses ao mesmo tempo como no calcanhar, cotovelo, quadril etc.  Uma dessas entesites muito frequentes em portadores de espondilite é a “fasciite plantar” que nada mais é do que a inflamação do tecido que existe na planta do pé e que pode evoluir com a formação de “esporão do calcâneo” uma calcificação da ligação desta fascia plantar com o osso do calcanhar.

Vejam que estas entesites também são muito frequentes em esportistas. Novamente a característica piora com repouso, o envolvimento de várias ênteses (não apenas uma), o acometimento de homens jovens e a relação com outros sintomas da doença devem levantar a suspeita do diagnóstico.

O olho é outro órgão que pode ser afetado pela doença. Esta inflamação ocular não deve ser confundida com uma conjuntivite banal. Na verdade trata-se de uma uveíte, uma inflamação mais grave que precisa de tratamento adequado.

Os sintomas podem evoluir progressivamente ou melhorar espontaneamente por longos períodos antes de recomeçar. Muitos pacientes não tratados acabam evoluindo com certo grau de rigidez. Mas, volto a dizer, isto não é obrigatório. Existem pacientes que evoluem com períodos de piora discreta e melhora espontânea sem perda de mobilidade durante toda a vida.  Por isso mesmo o aconselhamento médico é absolutamente essencial para determinar o risco de cada paciente, a necessidade (ou não) de tratamento continuo e qual o tipo de tratamento necessário.

 

QUAL A CAUSA DA ESPONDILITE

Ainda não se conhece completamente a causa da doença. Existe uma relação bem conhecida com um fator genético chamado de HLA B27 e que pode ser identificado por um exame de sangue, mas a presença deste fator não é obrigatória e, a imensa maioria das pessoas que tem este fator, não desenvolve a doença. Em outras palavras, além da predisposição genética existem outro(s) fator(es) que causam o surgimento da doença em apenas uma parcela dos pacientes com HLA B 27.  Portanto quem tem esta doença pode sim ter filhos normalmente.

 

COMO A DOENÇA É DIAGNOSTICADA?

O diagnóstico depende de uma associação de sintomas, alterações radiológicas e de exames laboratoriais.  Não é um diagnóstico simples ou conhecido pela maioria dos médicos, portanto, sugiro a consulta ao reumatologista, que é o especialista nesta doença.

 

QUAL O TRATAMENTO

A espondilite anquilosante é uma doença crônica que requer um acompanhamento de longo prazo.  A boa nova é que o tratamento atual é extremamente eficiente em controlar os sintomas da doença e, mais importante de tudo, impedir a evolução e as complicações da doença.

O tratamento inicial é feito com anti-inflamatórios não hormonais.  Em geral, portadores de espondilite devem tomar anti-inflamatórios de maneira continua e não apenas quando sentem dor. Obviamente, isto deve ser feito com acompanhamento médico.  Quando os anti-inflamatórios não são suficientes para controlar a doença existem certas drogas como a Sulfassalazina e o Metotrexato que podem ser úteis.

Mais recentemente toda uma classe nova de medicamentos chamada passou a ser utilizada com grande eficácia no tratamento da espondilite.   Genericamente estes medicamentos são chamados de medicações biológicas, mas este nome indica apenas questões técnicas de como estes medicamentos são produzidos.  Dentro deste nome genérico existem diferentes subclasses e dentro de cada uma dessas subclasses diferentes medicamentos comerciais distintos.  O ponto importante é que existem muitas opções, cada qual com suas características próprias.

Além das medicações, exercícios e reabilitação fisioterápica são muitíssimo importantes no tratamento.  A espondilite é uma doença crônica e deve ser acompanhada pelo especialista ao longo da vida do paciente para, não apenas controlar a dor e inflamação, mas evitar deformidades e incapacidade física.

 

A mensagem importante é que, com tratamento a grande maioria dos pacientes com espondite, levam uma vida normal que inclui: engravidar, ter filhos, fazer esportes e trabalhar.