A pandemia de COVID 19 continua no centro dos debates médicos. Apesar dos admiráveis avanços obtidos em tão pouco tempo, continuamos com muitos questionamentos ainda não respondidos.  Um aspecto preocupante, mas pouco falado da doença é um quadro clínico que tem sido chamado de COVID Prolongada.  Este termo se aplica para pacientes que tiveram COVID e permanecem com sintomas por mais de 12 semanas após a recuperação inicial da doença.  Os dados epidemiológicos ainda são imprecisos, mas acredita-se que isto ocorra em até 10% dos casos.

Este mês, no Congresso Americano de Reumatologia, foi apresentado um estudo realizado em Nova York que concluiu que pacientes com doenças reumáticas evoluem muito mais frequentemente com sintomas prolongados do que a população geral.  O estudo envolveu 254 pacientes reumatológicos e infecção por COVID. O quadro de COVID prolongada foi detectado em 56% dos casos.

O estudo ainda sugere uma relação entre a forma prolongada e a presença de sintomas mais intensos durante a fase aguda da doença bem como uma relação com o uso de certos medicamentos, em particular corticosteroides.

O estudo é um sinalizador, mas ainda pouco conclusivo. Minha própria experiência de consultório mostrou uma prevalência de sintomas prolongados bem menor do que esta reportada neste estudo. Obviamente vale ressaltar aqui a imprecisão da minha observação quando comparada com este estudo, devido ao numero bem mais reduzido de casos e o fato de ter sido feita, por assim dizer, no dia a dia, e não como parte de um estudo padronizado.

Ainda assim tenho algumas considerações que julgo importantes:

Muitos dos sintomas da COVID prolongada são sintomas próprios de doenças reumáticas como dor nas juntas, dor muscular, fadiga e falta de ar.  Doenças como a artrite reumatóide, lúpus, síndrome de Sjogren e esclerodermia, frequentemente acometem o pulmão, nervos e outros órgãos.

Portanto seria importante saber se o risco desta síndrome está relacionado apenas com o uso de certos medicamentos independentemente (ou não) do diagnóstico específico. Outra questão importante é saber se estes sintomas se desenvolveram em pacientes que tinham a doença reumática muito ativa ou mesmo naqueles nos quais a doença estava bem controlada. Mais ainda seria importante conhecer como se deu o tratamento da doença reumática durante a infecção pelo COVID.

Sem dúvida nenhuma, muitas destas perguntas dependem de maior tempo de observação e muitos estudos para serem respondidas, mas são fatos que alertam para a necessidade de um acompanhamento próximo dos pacientes reumáticos que contraíram COVID e de uma boa abordagem no tratamento das doenças reumáticas em tempos de pandemia.