Muitas dúvidas têm surgido quanto ao que fazer em relação ás medicações de uso continuo pelos pacientes com doenças reumáticas.

A profusão de noticias divergentes, falsas ou informações sem qualquer embasamento científico só contribui para o ambiente de dúvida e incerteza.

Portanto, ai vão algumas considerações:

  • Com relação ao uso regular de medicamentos imunossupressores incluindo, entre outros, corticosteroides, metotrexato, leflunomida e medicações biológicas, a manutenção e a dosagem destes medicamentos devem ser discutidas de forma individual, pesando judiciosamente os prós e contras de cada opção. Existem recomendações que variam de acordo com a idade do paciente, a situação da doença reumatológica, se o paciente esteve ou não em contato com algum portador de COVID 19 e se ele está atualmente com infecção e/ou sintomas de COVID-19.

 

  • Como fica a questão da cloroquina (comumente usada pelos portadores de lúpus, síndrome de Sjogren, doença mista do tecido conectivo, artrite reumatoide e síndrome antifosfolípide) ou o uso de corticoides também de uso frequente nas doenças reumáticas?

 

Aqui é preciso explicar um pouco mais.   Pacientes portadores das doenças citadas acima têm indicação do uso da cloroquina, em função das suas doenças e não por causa da epidemia do coronavirus.

 

Com relação ao coronavirus, três situações diferentes precisam ser distinguidas.

 

  • Em primeiro lugar: A complicação mais grave (felizmente acomete uma minoria dos casos) da infecção pelo coronavirus é um quadro de insuficiência respiratória associada ao envolvimento do pulmão pelo vírus e relacionada com uma resposta inflamatória intensa do organismo que acontece em alguns pacientes.

Existem sim estudos em andamento do uso de vários medicamentos nesta situação. A cloroquina que ganho tanto destaque na imprensa é uma destas drogas que tem sido usada em associação com a azitromicina (um antibiótico) em dose maior do que aquela que nossos pacientes utilizam regularmente, e por poucos dias. Da mesma forma, corticosteroides e várias outras drogas, incluindo uma medicação biológica utilizada no tratamento da artrite reumatoide, também tem sido avaliadas experimentalmente.

Ainda aguardamos os resultados destes estudos para saber qual ou quais destes esquemas podem ser benéficos no tratamento destas formas graves.

 

  • Mais frequentemente pessoas infectadas pelo coronavirus desenvolvem apenas sintomas leves. A utilidade de qualquer medicação nestes pacientes (para evitar a evolução mais grave) é outra questão que também tem que ser estudada, mas que é independente da primeira.

Uma droga pode ser eficiente no primeiro caso e ineficiente no segundo (ou vice e versa). Além do mais, apesar dos protocolos que vêm sendo estudados na primeira situação, neste segundo cenário, caso um medicamento venha a ser indicado, é preciso estabelecer antes qual a dose e por quanto tempo ele deveria ser usado.

 

  • Finalmente a pergunta mais frequente que recebo é em relação ao uso destes medicamentos como prevenção da infecção.

Outra vez esta é uma questão totalmente diferente das duas outras. Novamente, não existe ainda absolutamente nenhuma evidência científica mostrando que o uso regular da cloroquina possa prevenir a infecção pelo coronavirus.

 

Só para exemplificar quão diferente são estas três situações, o uso de corticosteroides em doses altas é considerado um fator que aumenta o risco de contrair infecções. No entanto, esta mesma droga tem sido eventualmente usada como coadjuvante no tratamento das formas pulmonares graves que se caracterizam por um grande processo inflamatório reacional.

 

Em resumo, converse com seu médico sobre os medicamentos que você está utilizando e avalie com parcimônia e censo crítico as notícias que circulam por aí.

 

Espero exatamente, que este texto possa auxiliar neste sentido.